Primeiro trabalho autoral do músico percussionista, o CD “Grão: Território Percussivo” será lançado em recital no Museu Capixaba do Negro, em 23 de novembro
Reconhecido no cenário musical do Espírito Santo por sua atuação como percussionista, professor, produtor e compositor de trilhas sonoras para espetáculos de teatro e dança, o músico Léo de Paula explora as diferentes possibilidades da percussão contemporânea em seu primeiro álbum autoral, “Grão: Território Percussivo”, selecionado pelo Edital Setorial de Música da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES).
O recital de lançamento será no dia 23 de novembro, às 16h, no Museu Capixaba do Negro Verônica da Pas (Mucane), em Vitória-ES. Durante o evento, Léo de Paula vai apresentar as composições do álbum com a participação do Grupo de Percussão do Projeto Vale Música Serra, do Projeto Badu de Dança Afro-Brasileira e das convidadas Ekaterina Bessmertnova (cantora) e Rapha Mel (coreógrafa).
Idealizado e produzido pelo artista, “Grão: Território Percussivo” reúne 12 composições, divididas entre obras de concerto contemporâneas e peças escritas para trilha sonora de espetáculos de dança afro-brasileira. O trabalho está disponível em CD e nas plataformas digitais, por meio do site www.leodepaula.com.br.
O CD físico vem em formato digipack em cuidadoso trabalho gráfico e traz ainda textos produzidos pelo compositor para cada faixa, em encarte em oito dobras, com fotografias de Tadeu Bianconi e Ariane Dourado.
Pesquisa
Gravado em Vitória, entre setembro de 2019 e janeiro de 2021, o CD é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo artista em torno de territórios percussivos que compreendem tanto a música miscigenada de rua e o carnaval quanto o ambiente de concerto e a experimentação. Léo de Paula define o álbum como uma junção de “música de concerto contemporânea para percussão e obras para espetáculo de dança”. Trata-se de um trabalho vigoroso, em que o músico se propõe a expressar diferentes olhares sobre as possibilidades de sons, ritmos e cores sonoras proporcionadas pelos mais de 20 instrumentos utilizados por ele nas gravações, entre os quais handpan, tambores de língua de aço, marimba, berimbau, pandeiros, tambor de congo, chocalhos, caxixis, sementes amazônicas, timbal e cuícas.
“A família dos instrumentos de percussão é território fértil: são muitas formas de obtenção sonora, cores timbrísticas, materiais que percutem e que são percutidos, sensações que são despertadas e que remetem a linguagens, lugares e tradições diretamente conectadas ao universo percussivo”, observa o músico, que entre 2010 a 2015 integrou o naipe de percussão da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo (OSES). Todas as composições são de Léo de Paula, com exceção de “Grão”, de Leonardo Gorosito, dedicada ao compositor; e “Das águas”, em parceria com a cantora Ekaterina Bessmertnova, que faz vocalises nesta faixa.
O caldeirão sonoro abrange ritmos como o ijexá e o congo, azeitado por pitadas de frevo, maracatu, samba, funk e forró, com especial atenção ao sincretismo religioso originário da filiação do Brasil à África. “As referências composicionais vão desde o potencial de protagonismo inerente a tais instrumentos (muitas vezes relegados ao exótico e folclórico), passando por alusões a arquétipos sagrados afro-brasileiros, pelo misterioso fascínio provocado pela natureza e pela experiência marcante da paternidade”, informa Léo de Paula, que dedicou a obra em três movimentos “Andryusha” ao filho Andrey, cujo nascimento se deu durante a feitura do álbum: “Andryusha é uma forma carinhosa atribuída ao nome Andrey. É uma obra em três movimentos escrita para o meu filho: Andrey Bessmertnov de Paula. O processo de composição se deu a partir de um mergulho na gestação, no nascimento e nos primeiros meses de vida e desenvolvimento, já repletos de estímulos artísticos criativos”, revela.
Além da música contemporânea de concerto para percussão, a outra parte do material gravado por Léo de Paula no CD contempla composições escritas pelo músico em 2019 para espetáculos de dança, a partir de uma estética que dialoga com a world music. São músicas que fizeram parte da trilha do espetáculo “Macurá-Dilê” e foram recoreografadas e incorporadas ao repertório e dramaturgia do espetáculo “Ipuan”, elaborado entre o fim de 2020 e início de 2021, e IIAÔ, elaborado no segundo semestre de 2021 pelo Projeto Badu de Dança Afro-Brasileira.
Mais que à escuta, mas também a partir dela, “Grão: Território Percussivo” incorpora o desejo de Léo de Paula de agregar a sua assinatura à produção e difusão de uma linguagem autêntica no terreno da música.
- CONFIRA:
CD “Grão: Território Percussivo”, de Léo de Paula
Lançamento presencial: dia 23 de novembro, às 16h, no Museu Capixaba do Negro Verônica da Pas (Mucane) – Avenida República, 121, Centro, Vitória, com recital de Léo de Paula e a participação do Grupo de Percussão do Projeto Vale Música Serra e do Projeto Badu de Dança Afro-Brasileira, desenvolvido pela Estação Conhecimento de Serra; e das convidadas Ekaterina Bessmertnova (cantora) e Rapha Mel (coreógrafa). Evento aberto ao público.
Apoio: Projeto realizado com recursos do Funcultura, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult-ES).
Onde adquirir o CD: no site da FiNA Produtora –www.finaprodutora.com.br
Preço: R$ 20,00
Onde ouvir “Grão: Território Percussivo” nas redes: o conteúdo do álbum está disponível nas plataformas digitais Spotify, Deezer, Apple Music, iTunes Store e Tidal.
- FICHA TÉCNICA DO CD:
Concepção, direção, produção musical e execução de todos os instrumentos: Léo de Paula
Vocal em “Das Águas”: Ekaterina Bessmertnova
Gravação, mixagem e masterização: Roger Rocha
Produção executiva: Fernanda Nali
Projeto gráfico: Werllen de Castro
Fotografias de capa e encarte: Tadeu Bianconi
Textos: Léo de Paula e Fernanda Nali
Produção: FiNA
www.finaprodutora.com.br
Gravação: RB Estúdio (setembro 2019) e Estúdio Don (janeiro 2021)
- SOBRE LÉO DE PAULA:
Léo de Paula é músico percussionista, professor, produtor e compositor de trilhas sonoras para espetáculos de teatro e dança. Atualmente é professor de percussão do Projeto Vale Música Serra, instrutor de oficinas do Museu Capixaba do Negro “Verônica da Pas” (Mucane) e de cursos livres de música do Centro Cultural Sesc Glória.
Graduou-se bacharel em Música com habilitação em Percussão pela Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames) em 2013. Recebeu prêmios como o título de “Honra ao Mérito”, concedido pela Câmara Municipal de Vitória (ES), em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à população, por ocasião da comemoração do Dia Nacional do Samba de 2016; e o prêmio de 3º colocado no IV Concurso Jovens Músicos – Música no Museu (concurso misto em âmbito nacional), realizado em 2011, na cidade do Rio de Janeiro.
Apresentou-se em países como Holanda, Sérvia, Inglaterra e Estados Unidos (Carnegie Hall, Nova York), e em salas como o Teatro Municipal (RJ) e a Sala São Paulo (SP). Com a Camerata Brasil/Vale Música, realizou turnês nacionais e gravou dois CDs, sob a coordenação do maestro e pianista Marcelo Bratke, entre 2009 e 2013, obtendo reconhecimento internacional no “The New York Times” e na “BBC” Londres.
De 2015 a 2019, apresentou-se em recitais-solo, recitais-palestra e ministrou oficinas em SESCs de estados como Acre, Amapá, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins. De 2017 a 2019 realizou turnês na Rússia, apresentou-se e ministrou masterclasses em Moscou, Kazan e Ufá, com reconhecimento em canais de TVs locais, inclusive participando da programação oficial da FIFA Fan Fest, em São Petersburgo (Copa do Mundo 2018); foi membro do júri internacional e ministrou masterclass na programação do Festival-Concurso “Drum Wave”, nos anos de 2018 e 2019; em 2020, foi premiado nos editais nacionais da FUNARTE “Respirarte” (com a coletânea de clipes Macurá-Dilê) e “Arte por toda Parte” (com a oficina “Toques bantos e influências na musicalidade brasileira).
Foi selecionado e se apresentou na programação online do SESC “ConViDA!”, na categoria “Música Brasileira de Concerto”, disponível no YouTube. Participou como instrumentista do flashmob online e diretor do Grupo de Percussão Vale Música dentro da programação do Festival “Drum Parade 2020”, em celebração ao aniversário de 317 anos da cidade de São Petersburgo.
No Espírito Santo, foi premiado nos editais emergenciais de 2020 do governo do Estado e do município de Vitória (concertos online “Conexão Rússia-Brasil”, em duo com Ekaterina Bessmertnova).
Paralelamente à atividade artística, foi instrutor de oficinas no Museu Capixaba do Negro (Mucane), de 2017 a 2021; gravou a oficina “Congo de Ouro e outros congos”, premiada pela Lei Aldir Blanc no edital do município de Vitória em 2020; e lecionou as disciplinas Percussão e Música de Câmara na Fames e em cursos livres de música do SESC Glória. Atuou, ainda, como comentarista e julgador do quesito bateria nos grupos A e B nos desfiles das escolas de samba do carnaval capixaba. Compôs e gravou/executou ao vivo a trilha dos espetáculos de dança/teatro “Colorido ao Cinza” (2015), “Kalunga” (2017, 2018, 2021), “Macurá Dilê” (2019), “Terra sem Males” (2021) e “Ipuã” (2021).
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- FAIXA A FAIXA PELO COMPOSITOR:
- Serpente
Instrumentação: Caxambores, djembê, congas, sementes, agogôs de castanha, jam block, agogô 4 campânulas, puíta, tambor de congo.
Os chocalhos, tambores, agogôs, côcos e castanhas, além do roncador, são o clima sonoro desta faixa de abertura. A sonoridade e toda trama rítmica, timbrística e melódica se refere a Oxumaré, orixá de origem Jêje-Nagô que remonta à continuidade, ao ciclo da vida, ao movimento: nascer e renascer. Tanto a serpente quanto o arco-íris podem representar esse orixá.
- Ventania solo
Instrumentação: Handpan solo
Durante o período de isolamento inicial da pandemia de 2020, foi adaptado este solo para handpan (em diálogo com o arquétipo associado à orixá Iansã), que numa versão anterior contava com presença de fortes ventos, tempestades, raios e trovões junto ao beat eletrônico e ao berimbau. Nessa versão prevaleceu o caráter intimista e a influência da estética minimalista, mantendo a temática e o conceito rítmico da composição inicial.
- À Beira
Instrumentação: Pratos, snujs, triângulo, mini bell-tree, agogô 4 campânulas, sementes, efeito reciclável, apitos de pássaros, kalimba, handpan, rav-vast, caxicôco, caxixi, bongô, congas e tambor de congo grande.
Esta obra é a tentativa de incorporar a ambiguidade sonora de estar à beira-mar (graças à sonoridade tropical da kalimba e do handpan em harmonia com o bongô e sons orgânicos de sementes), e à beira do rio, nos domínios das águas doces ligadas a Oxum. O ijexá é um ritmo intimamente ligado à orixá que representa também a fertilidade, riqueza, beleza e amor. A sonoridade metálica que caracteriza a introdução e a coda remete às suas jóias. Apitos de pássaros, congas, caxixis e tambores de língua de aço completam o ambiente sonoro da composição
- Agô
Instrumentação: Marimba, djembê, caxibaça, caxixi, sementes e moringa.
É um pedido de licença para que a marimba juntamente à moringa de barro, chocalhos, sementes e o djembê ocupem seu espaço de protagonismo em uma teia sonora polirrítmica e caracterizada pela sonoridade ancestral. Todos esses instrumentos se originaram de práticas e contextos tradicionais africanos que hoje estão espalhados mundo afora.
- Grão
Instrumentação: Chocalhos e sementes solo.
É uma peça escrita para diversos tipos de chocalhos. No Brasil existem inúmeros instrumentos dessa família, os usados nesta obra fazem parte de um acervo pessoal que foi se ampliando ao longo dos anos. O objetivo dessa peça não é necessariamente traduzir sons da natureza ou transportar o público ao interior da Amazônia, mas explorar o potencial musical destes instrumentos através de permutações rítmicas e riqueza timbrística. A estreia da obra aconteceu em 29 de Maio de 2015 no Centro Cultural SESC Glória (Vitória-ES).
6. Cortejo
Instrumentação: Marimba, pandeiro, berimbau, timbal e repique.
Trata-se de um tributo a instrumentos e elementos que foram fundamentais na minha trajetória, no desenvolvimento criativo e sobretudo na essência musical enquanto compositor. Inspirada na imagem da procissão, a marimba representa o portal de entrada para a estética do repertório contemporâneo de concerto. O pandeiro foi um dos meus primeiros instrumentos musicais e certamente possibilitou a descoberta do caminho segui pelo resto da vida. O repique e o timbal representam a importância do carnaval na minha vida pessoal e profissional. O berimbau remete à busca de fugir do óbvio e ir além.
7. Ipuan
Instrumentação: Handpan solo.
A obra foi escrita especialmente para o espetáculo homônimo de dança afro-contemporânea, cujo nome, em tupi, remete à “ilha”, também à presença de água em abundância. Faz alusão às ludicidades e subjetividades afetivas marcantes na relação com a natureza que nos cerca, em especial a água, que tem grande importância na dramaturgia e consequentemente na composição. É um solo para handpan explicitamente constituído a partir do ijexá, ritmo de origem sagrada afro-brasileira amplamente difundido na música popular brasileira e incorporado a diversas manifestações artísticas, como os afoxés.
8. Xirê
Instrumentação: Congas, bongô, caxixis, tambores de congo, cowbell, djembê e timbal.
Esta peça remete à atmosfera das festas públicas dos candomblés em que se executam toques, cânticos e danças relacionados aos orixás invocados. Diversos tambores, além dos caxixis e cowbells são os protagonistas desta faixa.
Andryusha: forma carinhosa atribuída ao nome Andrey. É uma obra em três movimentos escrita para o meu filho: Andrey Bessmertnov de Paula. O processo de composição se deu a partir de um mergulho na gestação, no nascimento e nos primeiros meses de vida e desenvolvimento, já repletos de estímulos artísticos criativos.
9. Jdu tibiá
Instrumentação: Kalimba solo.
Este primeiro movimento da obra “Andryusha” foi escrito durante a gestação do Andrey. Expressa as inquietações, receios, dúvidas e expectativas decorrentes de uma gravidez cuja maior parte atravessou a pandemia COVID-19. A construção gradativa de cada seção da obra está diretamente relacionada ao desenvolvimento das etapas gestacionais. A sonoridade minimalista deste solo, ao mesmo tempo doce e instigante, é decorrente do timbre característico da kalimba, instrumento oriundo dos povos bantos (desde o século XVI presentes no Brasil), e do caráter polirrítmico da composição.
10. De lá e de cá
Instrumentação: Pandeiro preparado solo.
Este movimento solo de pandeiro preparado – instrumento que dispõe de um mecanismo que controla a sonoridade das platinelas – originou-se das interações que aconteceram a partir do sexto mês da gestação, quando batidas e empurrões do Andrey se tornaram mais sensíveis e visíveis. Aqui, a herança da musicalidade brasileira se expressa através de citações, adaptações e ressignificações de ritmos típicos brasileiros que se juntam a movimentos uterinos e à expectativa crescente até o momento do nascimento. A partir de fragmentos de samba, frevo, funk, ijexá, forró e processos de construção composicional minimalista, tenta traduzir a emoção de já estabelecer trocas entre pai e filho.
11. Abrandamento
Instrumentação: Tambor de língua de aço “Orion”.
O terceiro movimento é um solo para tambor de língua de aço, especificamente o “orion modelo regular em Dó sustenido”. Nos últimos meses da gestação, a tensão e a apreensão ficaram muito presentes. A motivação deste solo foi abrandar os ânimos. Já nos primeiros meses de vida, as reações do Andrey ao colorido sonoro dos harmônicos da melodia principal tocada ao Orion mostraram que este movimento também o acalmava, acalentando suas breves sonecas.
12. Das Águas
instrumentação: Rav-vast, djembê, tar, caxixis, saculejê, sementes, conchas e efeito reciclável.
Na tradição sagrada afro-brasileira, a água está associada à criação, à fecundidade e à calma. Os mistérios e segredos das profundezas oceânicas povoam o imaginário dos compositores desta obra que conta com sons marinhos e batuques junto a um canto envolvente e intrigante que remete às sereias e outras figuras lendárias do imaginário popular.
* As faixas 1, 3, 4, 6, 8 e 12 foram escritas em 2019. Fizeram parte da trilha do espetáculo “Macurá-Dilê” e foram recoreografadas e incorporadas ao repertório e dramaturgia do espetáculo “Ipuan”, elaborado entre o fim de 2020 e início de 2021, e “IIAÔ”, elaborado no segundo semestre de 2021 pelo Projeto Badu de Dança Afro-Brasileira.