Províncias chinesas lideram o ranking da OCDE; censura pode impedir, porém, que estudantes desenvolvam potencial
A cada três anos educadores do mundo inteiro se voltam para os dados do Pisa, a maior respeitada avaliação de qualidade da educação básica, para saber de quem precisam aprender a aprender. Os resultados da última versão do levantamento saíram nesta terça-feira, e devem fazer as atenções dos próximos anos se voltarem para a China.
O Pisa é organizado pela OCDE, o clube de países desenvolvidos, e avalia alunos de 15 anos desde 2.000. Em seu primeiro levantamento fez da pequena Finlândia um sucesso mundial. O país foi o primeiro em leitura e entre os primeiros em matemática e ciências. O país chegou a criar uma unidade dentro de seu ministério da Educação para exportar os ensinamentos do país — que defendem valorização e autonomia do professor, liberdade para os alunos e trabalhos em grupo e interdisciplinares.
Esses preceitos continuam valiosos, mas os últimos anos mostraram o valor de, digamos, uma educação mais baseada na força bruta. A disciplinada Singapura ficou em primeiro lugar nas três categorias em 2016. Desta vez, o topo do ranking ficou com quatro províncias chinesas: Pequim, Xangai, Jiangsu e Zhejiang, líderes no aprendizado de matemáticas e ciências e empatadas com Singapura em leitura.
Os bons resultados chineses devem servir de intenso debate nos próximos anos. O país conseguirá oferecer as melhores oportunidades a esses estudantes num ambiente de crescente tensão social e fechamento político e econômico? Como é possível ter o melhor sistema educacional do mundo com um governo que impede a livre circulação de ideias?
Ao menos as províncias chinesas conseguem romper com uma lógica que permeia o Pisa desde sua criação: mais dinheiro costuma trazer melhor educação. Mas os resultados dos países membros da OCDE estão estagnados há duas décadas, apesar de um aumento de 15% nos investimentos por estudante. Os Estados Unidos, país mais rico do mundo, ocupam o 11º lugar em leitura, o 30º em matemática e o 16º em ciências.
O Brasil subiu três posições no ranking geral, mas segue em 59º entre as 79 nações avaliadas. O país é o 42º em leitura, o 58º em matemática e o 53º em ciências. Apenas 32% dos estudantes brasileiros sabem o mínimo de matemática, ante 98% dos estudantes chineses. O relatório mostra o Brasil abaixo de países de renda semelhante, como a Turquia, e no mesmo patamar dos vizinhos Argentina e Colômbia.
A OCDE destaca o avanço brasileiro na inclusão de estudantes à sala de aula nas últimas duas décadas. Precisamos, agora, de um plano para tirar a diferença para os melhores.
Fonte e foto reprodução: exame.abril.com.br