Por vezes as pessoas me perguntam se eu estou lá a gostar de morar em Vila Velha. Respondo, em momentos de mau humor e sem muitos modos, que fosse a bela cidade habitada por cachoeirenses eu estaria talvez mais feliz.
Não que isso seja fruto de algum sentimento negativo quanto aos canelas verdes, cuja companhia tenho aprendido a apreciar, mas alguma forte dose de saudades da vida que não tenho mais.
Vamos admitir, temos uma tendência a romantizar os tempos passados como os melhores tempos. Talvez porque, simplesmente, não são mais os velhos tempos a nos impor desafios diários e aporrinhações cotidianas. O tempo passado já não é, logo, apenas o tempo presente nos causa irritação.
Os velhos amigos já não nos pedem dinheiro emprestado para não pagar enquanto nos pagam a cerveja com o dinheiro que emprestamos (e que não vão pagar). Já mudaram de país; já mudaram de cidade; se arrumaram na vida de alguma forma. Os velhos empregos já não nos causam aborrecimento porque não mais dependemos deles para receber nosso salariozinho do fim do mês. Eu, por exemplo, só me lembro dos bons conselhos de meu querido saudoso Geraldo Hemerly. Se me perguntarem das broncas e das noites viradas estudando Sociologia da Educação, me pergunto se um dia aconteceram.
É, meu querido leitor, viver com a morte ameaçadoramente no cangote o tempo todo durante mais de dois anos trouxe, a mim ao menos, uma certa preguiça de viver. É como olhar ao redor e dizer “Estou vivo. E agora? Que faço?” Culpo o presente por supostamente não ser tão legal como os tempos passados. É o que me resta.
Mas o fato é que o vírus danado vai perdendo seu potencial de dano, enquanto as máscaras vão perdendo sua função; o (des)governo atual parece caminhar para seu fim, para nossa alegria; o carnaval voltou, ainda que mais perto da Semana Santa (adorei essa ironia); e não tendo partido dessa para a melhor, ou pior, impõe-se pensar novamente no futuro.
Eu não sei bem se estou já pronto para pensar no futuro, que me parece, ainda, um pouco assustador. Mas o tempo de se aborrecer com o tempo passado passou. O tempo passado é só alegria. E, por certo, é preciso que o tempo presente também seja. Os desafios são vencidos no presente para que se convertam em boas lembranças no futuro.
Perdoe, prezado leitor, o tom melancólico-auto-ajuda de hoje. Deve ser o tempo chuvoso, a trilha sonora, a saudade da família, dos amigos, o excesso de trabalho ou, ainda, alguma variável incomensurável que afeta as mentes sem que as mentes consigam se ajudar com alguma auto mentira.
No fim das contas deve ser apenas uma necessidade egoísta de desabafar e dividir com quem estiver lendo a angústia de existir.