por Basílio Machado
O título desse artigo também poderia ser “O Grito das Ruas”. O fato é que nessa quinta-feira parte do centro de Cachoeiro parou. Comerciantes protestaram contra o fechamento de suas lojas. Justo movimento, afinal, quando o diálogo não chega a bom termo, resta o protesto. Justa também a indignação daqueles que apoiam a quarentena proposta pelo governador, que viram naquela manifestação uma afronta contra os mortos da Covid. Paradoxal.
No olho do furacão, bem ali em frente à Pracinha do Roberto Carlos, tive a oportunidade de presenciar uma cena angustiante, que reflete o que estamos passando no país e particularmente em Cachoeiro. Em meio à paralização do trânsito, ambulâncias tentavam furar o bloqueio, desesperadamente, com as sirenes ecoando o martírio do passageiro moribundo, talvez alguém sem ar nos pulmões em busca de socorro.
Não sei se quando chegou ao hospital teve vaga para o paciente. Tá tudo lotado. Não sei também se o enfermo era parente de um dos manifestantes. Por outro lado, tento entender a angústia de patrões e empregados que necessitam levar o pão pra casa todos os dias. A quarentena pegou em cheio nos lojistas, principalmente nos pequenos.
Vivemos um tempo de cobertor curto. Se cobre a cabeça, descortina os pés; se cobre os pés, expõe as orelhas ao zumbido dos pernilongos, que entram nos ouvidos panfletando a agonia e o infortúnio da população nesse período nefasto da história. Rezo todas as noites pelo meu emprego, pela oportunidade de poder ganhar dinheiro honestamente, e assim manter a família. Rezo também pela saúde dela, peço a Deus que pare de morrer gente próxima. Já perdi um tio para o vírus.
Hoje, vou rezar pelos nossos governantes. Pedir que tenham mais diálogo, que ouçam mais as ruas. E pedir às ruas que ouçam mais os governantes, que entendam sua missão. É possível encontrar um caminho, mesmo que estreito, onde possam transitar todos os pensamentos. Quanto antes debelarmos a praga, mais rápido voltaremos à normalidade. Amém!