Não sei o que falou Zaratustra, tampouco sou apegado às profecias de Nostradamus. Um gaiato meio zoroástrico, seja lá o que isso quer dizer, disse-me que eles previram o título do “Capixabão” para o Estrela do Norte esse ano. Aliás, ainda não entendi o porquê do Estrela ser do Norte, quando o clube é sulino. Coisas da nossa capital. Pelo ímpeto do narrador Willian Lima nas transmissões da Rádio Cachoeiro FM, e pelo sapeco lelê que o time deu no São Mateus na segunda rodada do certame, pode ser que agora vá.
Verdade mesmo é que a vitória do alvinegro cachoeirense foi uma das poucas alegrias dessa semana que vem nos assombrando. A nova onda da virulenta Covid vem tirando o sono da nossa gente. Outro dia me deparei com uma amiga aos prantos, no silêncio de seu diminuto escritório. Temia um novo fechamento do comércio, aquilo que a imprensa mundial chama de lockdown, uma espécie de estado de sítio às claras decretada por estados e municípios que tentam parar o furor do vírus em sua devastadora saga de matar pessoas.
Não soube o que dizer para confortá-la. Eu, que no início fui a favor e depois contra, agora já não sei. Assim como o vírus, que vem se transmutando; assim como a ciência, que a cada dia descobre algo de novo sobre essa praga; assim como a OMS, que mandou não usar máscara e depois desdisse o que havia dito; assim como o Bolssonaro, que não acreditava muito, mas agora está atrás da vacina; assim como os grandes laboratórios, que ora dizem que sim, ora que não é bem assim, sobre a eficácia das vacinas contra as variantes; enfim, como qualquer mortal, estou sem rumo nessa história.
Só tenho de certeza é que as lágrimas que corriam no rosto da amiga eram verdadeiras e revelavam toda sua angústia. Medo de ver repetir o desespero de 2020. Se chove, tem medo da chuva; se o rio sobe, tem medo da enchente; tem um parente mais velho, tem medo que morra; se tem um pequeno negócio, tem medo da ruína provocada pelo lockdown. Medo de perder tudo de novo, de não conseguir pagar os empréstimos que fez para sobreviver à enchente e à primeira onda pandêmica. O que dizer a ela? Essa pergunta me corrói as têmporas. Que encruzilhada nos metemos.