*por Arlindo Pinheiro Neto
A língua portuguesa não é para amadores. Parece uma mulher. Cheia de vícios e vírgulas, pontos, dois pontos e as… reticências… Estas são as mais perigosas e as minhas preferidas. As reticências abrem uma espécie de portal onde cada leitor lê o que quer e viaja como puder. Não há limites, são libertárias. Práticas também. Precisou…reticências.
Já os dois pontos são mais cartesianos, matemáticos e enumerativos. Tipo Lobão: blá, bláblá e blábláblá. Disse tudo. O ponto simples é uma espécie polivalente. Ponto, ponto parágrafo e ponto final. Tipo Raul Seixas em seu início, fim e o meio.
Têm também o ponto e vírgula, um híbrido que foi criado com a única finalidade de complicar ainda mais a arte da escrita. Os pontos de exclamação e de interrogação trazem em seu DNA esta característica e o trema extrapolou enquanto pôde adornando umas cinqüenta lingüiças. Assim, está mais para trama.
Como disse no início, a língua portuguesa parece uma mulher. Feitas para serem amadas. As aspas, sorrateiramente, vão trazendo à tona as ideias de outrem, de forma sutil. Uma sutileza só comparável à das mulheres quando se apoderam dos nossos corações deixando um monte de interrogação no ar. Interrogações que nos remetem à eterna musa Helô Pinheiro ao desfilar sua silhueta enigmática pelos calçadões de Ipanema.
Sim, são muitos os pontos de interrogação que elas produzem, a língua pátria e as mulheres. Assim como são muitas as reticências que nos deixam esperando por um final feliz nos romances, e que às vezes nunca chegam. Capitu, Capitu, afinal, traíste ou não o Bentinho?
Ah, mulheres! Oh, portuguesinha! Bem que nos avisaram os hifens que separam o mau-me-quer do bem-me-quer. Em suas homenagens, sem parênteses, termino este texto com uma bela e dupla exclamação, abraçada pelas mais puras aspas. “Eu vos amo!!”
(com a colaboração de Basílio Machado)